MIRIM – AÇÚ – Dados históricos
por Carlos A. C. Lemos
1. Nos finais do ano de 1962, o agrimensor aposentado da Sorocabana, Henrique F. Hanser, antigo sócio do falecido pai de Marino Barros, na qualidade de amigo da família, propôs àquele meu colega uma sociedade inesperada: participar do lançamento de lotes à beira da represa de Itupararanga, em Ibiúna.
2. Ele ali possuía um sítio de 7 alqueires que desejava urbanizar tendo em vista vender lotes a pescadores de fim-de-semana. Nessa hora, já tinha em mãos o projeto de arruamento que fizera pessoalmente. Tratava-se de concepção absurda, além de contrariar a lei vigente no momento, também inviável comercialmente, devido à quantidade enorme de lotes mínimos de 250,00 m2 (10,00 m x 25,00 m) sem outras opções. Inquerido a respeito, respondeu que os compradores em potencial poderiam comprar vários lotes, conforme o tamanho de seus bolsos. Fui testemunha ocular dessa proposta e, de comum acordo comigo, Marino disse que ia pensar no assunto e talvez aceitasse a proposta se chegasse a alguma solução plausível à demanda que no momento se percebia à vista da publicidade, dada às ofertas de condomínios em locais pitorescos transformados em “clubes” compostos de grandes lotes à volta de uma sede mais instalações esportivas. Aquele proponente, a contragosto, aceitou a ideia, já que não tinha ninguém mais a recorrer.
3. Marino, meu colega de turma no Mackenzie, antes de tudo, era meu amigo desde criança, pois frequentamos juntos a escola pré-primária da dona Luizinha, na rua da Penha, em Sorocaba, em 1932-33. Pediu-me que estudasse a questão oferecendo uma contraproposta a Henrique, que, no fundo, era um bom sujeito. Ficamos todos amigos.
4. A área da gleba disponível era relativamente pequena e de uniforme e acentuada declividade em direção à represa da Light naqueles dias e, depois, da Votorantim. A ideia de um clube, com o seu restaurante, salão de festas, piscina, vestiário e instalações esportivas foi logo descartada não só por falta de capital compatível, mas também, devido ao custo elevado das possíveis instalações em terrapleno contido entre altos muros de arrimo. Optamos por um simples loteamento a ser aprovado, conforme a legislação vigente, na Seção de Engenharia Sanitária do Departamento de Saúde do Estado de São Paulo e na Prefeitura de São Roque, em vez de ser na de Ibiúna, não me lembro por que. Era necessário, também, um registro na “Lei nº 58” da planta aprovada numa repartição qualquer, se não me engano, federal. Essa “Lei nº 58” era advinda de uma lei federal destinada a garantir ao comprador de um lote a lisura de seu negócio imobiliário. Ao contrário do que Henrique fizera, imaginei as ruas preferivelmente ao longo das curvas de nível, lotes de 1.000,00 m2 no mínimo e 10 % da área total num espaço comunitário, oficialmente “praça pública”. Foram também previstas duas glebas, tendo sido a menor delas destinada a amigos ibiunenses de Henrique, aquela traçada à volta da “casa do fiscal” da Light, que o nosso amigo Jaime Alípio de Barros acabou comprando; hoje pertencente ao médico Ricardo Borges da Costa, um verdadeiro “mirim-açuense”, pois seus pais, Ferdinando e Martha, foram uns dos pioneiros desbravadores daquele mato fechado, que era o sítio do Henrique. Aliás, foi um dos filhos dele, sem querer, o autor do nome “Mirim-Açú”. Nas vésperas do lançamento oficial do empreendimento alguém, num almoço à sombra de árvore frondosa da área comum, perguntou qual seria o nome a ser anunciado, já que o sítio nunca tivera denominação alguma. De cara, o nome de algum santo foi descartado, não me lembro bem porque, talvez por motivos religiosos. Outro alguém da roda alvitrou que devesse ser lembrada a “grandiosidade” daquela realização imobiliária. Todos riram porque acharam que a extensão da área loteada não era essas coisas. Nesse momento um dos filhos de Henrique, menino de seus dez anos, disse assim, de sopetão: “pequeno-grande” em tupi-guarani é “mirim-açú”, estava simplesmente pondo em prática o ensinamento recebido no dia anterior de sua professora de grupo escolar. “Esse é um bom nome”, disse rindo e todos riram com ele e assim ficou.
5. Os lotes de Mirim-Açú foram vendidos rapidamente, sem publicidade alguma, a amigos e parentes. A primeira casa a ser construída foi a minha; inaugurada no Carnaval de 1964, nos dias da revolução dos milicos. Em seguida, deram início às suas, o meu pai Avelino; a minha irmã Thereza e o seu Tito; o Luís Zeron, o Brás Moretti, todos clientes da dupla de construtores Zé Peres, português de Valença do Minho, e Olívio Nunes, caipira mesmo, porém músico por vocação, grande amigo. Depois, já alcançando a década dos anos 1970, levantaram suas mansões: Sidney Gioielli; Décio Frugolli; Antonio Ribeiro, sócio do meu cunhado Osmar; Nedo Eston de Eston, que vendeu sua propriedade ao Pedro Paulo Poppovic; Maria Tereza Robba, hoje propriedade de Boris Fausto e Ângelo Taccari. Já chegando nos anos 1980, arribaram também Fernando Teles Rudge, Roberto Dreyfuss, Carlos Fagundes, José Gregori, Carlos Ará Aramilian, Júlio Croce e Sérgio Pecci. Foi chegando mais gente simpática, mas perdi a conta.
Nota: o logotipo de Mirim-Açú foi desenhado pelo João Carlos Cauduro, tendo sido premiado por volta de 1965 em concurso na Itália.
São Paulo, 22 de abril de 2015.